
Movimentos sociais de esquerda fizeram um protesto na sede do Itaú BBA, em São Paulo, para defender a taxação dos super-ricos e uma reforma tributária justa , que dizem ser crucial para reduzir a desigualdade .
A ação ocorreu nessa quinta-feira (3/7) na avenida Faria Lima, centro do mercado financeiro na capital paulista.
O protesto foi organizado pela frente Povo Sem Medo e pelo Movimento do Trabalhadores Sem Teto de São Paulo (MTST-SP) e durou cerca de duas horas.
Munidos de cartazes com frases como chega de mamata , os integrantes do movimento deixaram o prédio do Itaú no fim da manhã.
A reportagem escreveu para o Itaú BBA, braço de investimentos do banco Itaú, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Procurado mais cedo pelo site Metrópoles, a instituição não tinha se manifestado.
No Brasil, taxar os super ricos é crucial para reduzir a desigualdade. São lucros e dividendos que seguem intocados, enquanto a maioria trabalhada muito e paga caro por tudo , diz texto da Povo Sem Medo publicado nas redes sociais.
Já o MTST disse que a ocupação da sede do Itaú é só o começo . É hora de inverter a balança , publicaram no Instagra. Eles prometeram nova ação em São Paulo no próximo dia 10.
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que já foi coordenador do movimento dos sem-teto, também comemorou o protesto: Pra cima! , publicou o aliado do governo Lula no X. O recado do povo é claro: o Brasil precisa de Justiça tributária.
A ação dos movimentos acontece um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exibir um cartaz que pedia a taxação dos super ricos durante evento que celebrou a independência da Bahia nesta quarta-feira (2/7).
Mais justiça tributária e menos desigualdade. É sobre isso , publicou o presidente no X.
Em 26 de junho, o PT lançou uma campanha pela taxação dos mais ricos, chamada de taxação BBB : bilionários, bancos e bets.
O vídeo da campanha publicado nas redes sociais do partido retoma o projeto do governo federal de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil que tramita no Congresso.
Como forma de compensação, o texto propõe aumentar o imposto sobre os contribuintes mais ricos (renda mensal acima de R$ 50 mil).
Num momento em que o governo enfrenta crise de popularidade, a ênfase reforçada no discurso pela taxação dos super-ricos e pelo projeto de isenção do IR ganhou fôlego após a derrota do governo federal ao ter a proposta de aumento do IOF (Imposto de Operação Financeira) derrubada no Congresso.
O Planalto afirma que a alta do IOF é importante para o equilíbrio das contas públicas e decidiu acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) contra a medida, abrindo uma fase de conflito aberto com a liderança do Parlamento, onde o Planalto não tem maioria estável.
Já os oposição diz que o governo propõe mais impostos e ameaça prejudicar as atividades produtivas quando deveria estar cortando despesas.
Segundo a locução da propaganda do PT, é preciso taxar grupos que pagam nada ou quase nada de imposto de renda e pagariam mais se o texto em negociação fosse aprovado, para manter as contas equilibradas .
Na quarta, o PT fez uma reunião virtual com criadores de conteúdo e apoiadores para reforçar a nova estratégia de comunicação.
Após o encontro, o partido lançou um site para cadastrar influenciadores pró-governo. Segundo os organizadores, a ideia é criar o Clube de Influência do Time Lula , com suporte jurídico e canais diretos com a estrutura partidária.
Lula tenta emplacar novas regras no IR com potencial de agradar milhões de brasileiros e prejudicar uma parcela bem menor da população.
Sua expectativa é que as mudanças sejam aprovadas no Congresso em meados do semestre que vem e comecem a valer em 2026, ano de eleição presidencial, em que Lula poderá tentar a reeleição.
Na proposta, apresentada em março, o imposto sobre os contribuintes mais ricos (renda mensal acima de R$ 50 mil) subiria para permitir isentar do Imposto de Renda pessoas que ganham até R$ 5 mil.
A medida inclui ainda a previsão de desconto no IR dos que ganham entre R$ 5 mil e R$ 7 mil.
Segundo o governo, o texto elevaria a tributação de 141 mil contribuintes de alta renda, com a criação de um imposto mínimo sobre os mais ricos, além de passar a taxar a remessa para o exterior de dividendos (parte do lucro que empresas distribuem a acionistas).
Este imposto mínimo seria cobrado para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil ao ano). A previsão é que essa taxa começará com uma alíquota baixa, próxima a zero, e subirá gradativamente até 10% para quem ganhar mais de R$ 100 mil ao mês (R$ 1,2 milhão ao ano).
Por outro lado, eliminaria o Imposto de Renda de 10 milhões de brasileiros, elevando os contribuintes isentos para 26 milhões (65% do total).
A ideia é que o saldo das medidas tenha impacto neutro nas contas públicas, sem elevar ou reduzir a arrecadação. Ou seja, as novas cobranças sobre os ricos devem compensar a previsão de perda de R$ 25,8 bilhões em 2026 com o alívio do IR sobre a classe média.
Defensores do aumento da isenção dizem que a tabela do Imposto de Renda está defasada em relação à inflação há anos, o que leva os contribuintes a pagarem mais impostos.
Opositores chamam a proposta de eleitoreira e duvidam de seu impacto neutro sobre o equilíbrio fiscal do governo. Alguns dos opositores também dizem que a alta de impostos vai penalizar o setor produtivo.
Economistas também alertam que o pagamento menor de impostos pela classe média deve aumentar o consumo no país, com potencial impacto sobre a inflação e a taxa de juros.
A gestão Lula estava otimista com a aprovação, por se tratar de uma medida popular em relação ao IR, mas desde o começo as principais lideranças no Congresso sinalizava que poderia fazer alterações na proposta no trecho sobre os mais ricos.
Nesta quinta (3/7), o deputado Arthur Lira (PP-AL), relator do projeto do IR, afirmou que as negociações em torno da proposta devem ser retomadas na próxima semana.
Segundo Lira, o avanço do projeto foi interrompido no fim de junho, já que o clima não parecia propício para liberar o texto pelas tensões envolvendo a discussão sobre o IOF.
O texto tem uma unanimidade, que é a isenção dos R$ 5 mil para todos os brasileiros que recebem isso, uma justiça tributária , afirmou a jornalistas durante o Fórum de Lisboa — evento organizado por Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Lira reconheceu a dificuldade de consenso em torno da nova taxação dos mais ricos, O texto tem dificuldades com relação à sua compensação. E nessa compensação é que a gente vai ter que ter muita grandeza de negociação e de diálogo , disse.
Bolsonaristas chegaram a comparar a ação que durou duas horas e não teve detidos com o 8 de janeiro, quando centenas de pessoas depredaram a sede dos três poderes.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou o vídeo do protesto no X e marcou o perfil do STF na publicação. Quantos anos vão pegar de cadeia? Ou só vale pra quem tá de verde e amarelo? , disse.
Também no X, Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do PL e ex-advogado de Jair Bolsonaro, questionou se os militantes do ato desta quinta seriam condenados como os envolvidos nos ataques na Praça Três Poderes em 2023.
A invasão de propriedade privada na Faria Lima que ocorre nesse momento em SP condenará os autores a mais de 10-15-18 anos de cadeia? , disse.